Mariana Takahashi

Lesões por pressão em pacientes com COVID-19: desafiando a cicatrização Como tratar?

Você profissional quer aprender como tratar? Você paciente, precisa de ajuda para decidir qual profissional procurar?

Então acompanhe o Feed desta semana.

Escrito por Mariana Takahashi em Maio de 2021

 

Lesões por Pressão

No último post mostrei para vocês um panorama geral sobre as Lesões por Pressão em pacientes com COVID-19. Para se entender a importância de se conhecer este tipo de lesão e seu impacto na saúde dos pacientes, basta pensarmos que Todo profissional de saúde já deparou em algum momento com estas lesões, e com o avanço da pandemia, me arrisco a dizer que quase todas as pessoas conhecem alguém que tem, já teve ou terá este tipo de ferida. Por isso, se você está lendo este post, ajude outros profissionais, outras pessoas com informação, compartilhando-o. O fato é que todos nós corremos o risco de desenvolvermos este tipo de lesão, pois basta ter pele.

Neste FEED vamos discutir o manejo destas lesões quando acontecem junto com a COVID-19! Acompanhe!

 

Porquê se formam mesmo?

Como já discutimos no feed anterior, as Lesões por pressão, anteriormente conhecidas como úlceras de decúbito, úlceras por pressão, se desenvolvem quando há pressão exercida sobre a pele comprimida entre o peso do corpo e a superfície na qual ele está apoiado, em especial sobre proeminências ósseas. A chance de contaminação e desenvolvimento de infecção nestas feridas é alto, devido não somente sua localização, sendo que a mais comum é a região sacral, ou seja, o tempo todo exposta a urina e fezes; soma-se a este fato as más condições clínicas dos pacientes, que fazem com que o organismo priorize o funcionamento de órgãos nobres, para a sobrevivência, e assim, não “gasta energia” com funções secundárias, como cicatrização ou proteção da ferida pelo sistema imune. Neste cenário se desenvolvem os temíveis BIOFILMES, que devem ser o foco do manejo destas lesões para os profissionais envolvidos. Sendo também, o principal desafio do manejo destas lesões

 

Então agora é só tratar a ferida?

Uma vez formada a lesão, as medidas de prevenção devem continuar a ser aplicadas. A proteção das demais proeminências ósseas, a hidratação da pele, a mudança de decúbito (alternar a posição com intervalos máximos de 2h), previnem não somente o desenvolvimento destas lesões mas também o seu agravamento. Portanto, o tratamento deste tipo de lesão não se restringe ao manejo/cuidado local, estende-se ao alívio da pressão local, à minimização de fricção no local, ao cuidado da pele perilesão para o seu adequado controle. Ou seja, mudanças de posição, evitar que a pessoa escorregue na cama, na cadeira quando na posição sentado, mantendo a pele ao redor da ferida e do resto hidratada e com pH ácido para evitar o aumento da lesão já formada e a formação de novas feridas.

E como eu trato?

A minha experiência com estes pacientes têm mostrado grandes perdas de tecido, lesões E4 tem sido a regra, e controlar esta imensa perda tissular é desafiador. Na minha vivência de receber estes pacientes em ambiente ambulatorial pós-alta, pude identificar a presença de biofilme em 100% dos casos.

Por isso, para falarmos de tratamento, precisamos iniciar por minimizar os riscos. E isto vamos conseguir controlando em primeiro lugar o ambiente ao redor da ferida: a pele íntegra.

Para mantermos a pele saudável, resistente e capaz de combater os microorgamismos que podem causar infecções (patogênicos), devemos manter seu pH normal, que é ácido!! Este ambiente é hostil para estes microorganismos, e para mantê-lo, devemos utilizar para higienizar a pele, sabonetes acidificantes, ou seja, com pH ácido! Existem sabonetes específicos que apresentam um pH exato de 5,5. Porém, na prateleira da farmácia, do supermercado, encontramos de forma fácil sabonetes que tem um pH adequado e ajudam a nossa pele a manter o pH ideal. Eles são os sabonetes líquidos infantis, em especial os para bebês tem pH bastante interessantes.

E após a limpeza, não podemos esquecer da hidratação. A aplicação de hidratantes repõem a hidratação natural perdida na limpeza tornando a pele mais resistente às agressões externas, incluindo pressão e fricção.

As proeminências ósseas que não tem lesões, devem ser mantidas protegidas para que a pele não venha a romper. Para isto podemos usar películas transparentes específicas para proteção da pele (antes que você pergunte, não, não serve papel contact nem filme de alimento) que minimizam os efeitos da fricção e cisalhamento, hidrocolóides extra-finos ou espumas multicamadas com camada de contato de silicone. Estes curativos minimizam os efeitos da fricção, cisalhamento e pressão, ajudando a evitar que as lesões venham a se formar.

A mudança de decúbito, ou seja, a mudança de posição corporal com intervalos máximos de 2h são a principal medida, não só preventiva como para cicatrização. Ficar em uma posição na qual o peso do corpo é projetado sobre a lesão, atrapalha e muito a cicatrização. Lembrando que pequenas mudanças em curtos espaços de tempo, já aliviam os pontos de pressão.

Agora vamos falar sobre as feridas.

Como eu citei anteriormente, a dimensão e presença do biofilme nestas lesões são o principal desafio.

Para começar, uma avaliação completa e precisa, com um olhar cuidadoso para a presença de infecção é fundamental para a conduta assertiva. Caso haja infecção, as medidas indicadas pelos consensos internacionais ou protocolos institucionais para o manejo devem ser adotados.

Por se tratarem na grande maioria das vezes de feridas crônicas, a presença de biofilme é praticamente certa. Desta forma, procure pelos sinais clínicos de presença de biofilme na ferida. Lembrando que o fato da ferida não cicatrizar a despeito do manejo adequado, já deve levar o profissional a suspeitar de biofilme.

Em ambos os casos, se houver presença de tecido inviável (morto), este deve ser removido por desbridamento o mais rápido possível. Não podemos jamais esquecer que tecido inviável é o ambiente ideal para a proliferação de microorganismos. Portanto, se a ferida não está infectada, mas tem tecido morto e este não é removido, pode ter certeza que mais cedo ou mais tarde haverá infecção. Assim, a remoção deste tecido faz parte da limpeza da ferida e DEVE ser uma prioridade.

No caso da presença de biofilme, o desbridamento preferencialmente instrumental, com um intervalo de no máximo 48h para quebra do mesmo é mandatório. Ou seja, o paciente terá que retornar com o profissional para este procedimento no máximo com este intervalo até que o biofilme esteja controlado. Isto por uma razão bem simples: o biofilme maduro se forma novamente em apenas 24h.

Um passo importante, tanto na vigência de infecção quanto de biofilme é a limpeza adequada e eficaz. Para isso, os consensos indicam a utilização de antissépticos e limpeza mecânica, sem muita delicadeza (a intenção não é fazer carinho nos bichos!)

O controle do exsudato (secreção) é fundamental, pois ele é rico em nutrientes, oxigênio, fatores de crescimento, que estão ali para estimular a ferida a cicatrizar. Porém se ficar “sobrando” na ferida, ou seja, se a ferida ficar MOLHADA ao invés de ÚMIDA, esse excesso servirá de estímulo para os microorganismos crescerem e se multiplicarem, e assim causarem infecção ou formarem um belo biofilme.

Se a ferida tiver espaços mortos (cavidades, tuneilizações, descolamentos de bordas = buracos) estes têm que ser preenchidos para que a ferida cicatrize. Estes “espaços vazios” servem de estrutura para formar uma “piscina” de exsudato, e os microorganismos têm então um verdadeiro resort, com tudo que precisam para viver e ainda área de lazer! Por isso a regra é: todo espaço morto deve ser preenchido! Escolha uma cobertura maleável, com capacidade de absorção e conformabilidade.

 

Utilizar coberturas com antimicrobianos também é recomendado pelo consenso. Portanto, escolha uma que seja impregnada com prata, PHMB, DACC, a que estiver disponível no momento. Elas vão ajudar tanto a prevenir quanto a tratar infecções e biofilmes.

Se você é o profissional que está tratando a ferida, garanta que todos estes aspectos sejam contemplados na estratégia de tratamento. Se você é uma pessoa ferida, não minimize o problema, procure um enfermeiro especialista na área de cicatrização para que a ferida se feche sem complicações e sustos desnecessários!

Até o próximo post!!!

#euamocuidardapele!

Imagens do acervo de Msa Mariana Takahashi

 

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