Tratamento de Onicomicose com Alho
Estes dias atrás, recebi um link de uma matéria que falava sobre um caso de uma queimadura de 2º grau após o uso de alho para tratar “um fungo no dedão do pé”.
O alho é, desde a antiguidade amplamente utilizado na medicina tradicional como potente antibacteriano, antifúngico, antiviral, larvicida, redutor de colesterol…
Seus efeitos terapêuticos são constantemente alvos de estudos, bem como seus efeitos colaterais são massivamente divulgados no meio acadêmico.
Propriedades
Cardiovasculares
Diminuição da pressão arterial, prevenção da aterosclerose, redução do colesterol e triglicerídeos séricos, inibição da agregação plaquetária e aumento da atividade fibrinolítica.
Antibiótico
O alho tem ação contra bactérias gram-positivas, gram-negativas e ácido-rápidas. Muitos fungos também são sensíveis ao alho. Já com relação aos vírus, ainda não há estudos suficientes que permitam uma conclusão.
Existem outras propriedades terapêuticas que no entanto, não apresentam grandes estudos que comprovem sua eficácia, como tratamento de artrite, dor de dente, tosse crônica, constipação, infestação parasitária, picadas de cobras e insetos, doenças ginecológicas, bem como em doenças infecciosas
Porção terapêutica
As substâncias que geram efeito terapêutico no alho, são encontradas no seu Extrato, o qual pode ser obtido por diferentes processos.
O extrato aquoso é obtido quando picamos ou maceramos o dente de alho. Já para obter o extrato envelhecido, o dente deve ser fatiado, imerso em álcool e armazenado por 1,5 anos.
O óleo de alho é obtido a partir da destilação a vapor da rama.
Efeitos colaterais
O efeito colateral mais comum do alho ingerido é o odor da respiração e do corpo. O consumo de quantidades excessivas de alho cru, especialmente com o estômago vazio, pode causar desconforto gastrointestinal, flatulência e alterações na flora intestinal. O consumo de dois dentes de alho/dia em adultos demonstra-se seguro.
Com relação à aplicação tópica, há inúmeros relatos de dermatites alérgicas, queimaduras e bolhas decorrentes da aplicação tópica de alho cru.
Conhecendo as propriedades terapêuticas do alho, seu amplo uso não somente na fitoterapia e medicina tradicional, mas hoje ganhando espaço e indicação por profissionais de saúde e pesquisadores de todo o mundo, resolvi então ler o artigo original, publicado em um periódico científico para conseguir entender com mais detalhes o caso.
Bem, vamos aos fatos:
O alho fresco era fatiado e aplicado diretamente sobre a pele
A parte do alho que tem efeito terapêutico é o seu Extrato, seja ele aquoso, envelhecido ou o óleo (antibacteriano, antifúngico, antiviral, larvicida), os quais são extraídos dos dentes por diferentes técnicas. O alho, em sua composição, além das substâncias com efeitos terapêuticos, contém substâncias potencialmente alérgenas e irritantes (dissulfeto dialílico, alicina), portanto, muito embora seja difundido como prática por naturopatas o uso do dente de alho para tratar dores, não existe motivo para aplicar o alho diretamente sobre a unha/pele e principalmente mantê-lo no local.
O alho permanecia em contato direto com a pele por mais de 4h/dia
Cabe aqui o mesmo princípio de Dose que usamos para medicamentos: existe a dose terapêutica, a dose tóxica e a letal. Precisamos sempre trabalhar dentro do espectro da dose terapêutica, pois trabalhando abaixo dela, não obteremos o efeito desejado, no entanto, se trabalharmos acima dela, provocaremos danos, neste caso específico, tóxico.
Na avaliação, o pH da região afetada era de 9,0
O alho tem pH alcalino, em torno de 8,0. Já a nossa pele tem pH ácido, entre 4,5 e 5,5. Este pH ácido tem efeito protetor, pois os microorganismos toleram mal o meio ácido. Neste caso, a exposição prolongada da pele ao pH alcalino do alho alterou seu pH fisiológico, removendo a proteção natural contra invasões bacterianas. Soma-se a isso o fato de que alcalinizar o pH da pele, altera a sua estrutura de barreira, facilitando o seu rompimento.
Enfim, o tratamento de onicomicose com alho de fato apresenta bons resultados, desde que aplicado da forma correta. Algumas desvantagens como o cheiro, o fato de ter que preparar a solução, acabam levando as pessoas a descontinuarem ou não aderirem ao tratamento.
Sorte a nossa que hoje em dia existem alternativas bem bacanas para o tratamento tópico da onicomicose, inclusive fitoterápicos, que podem evitar a necessidade do uso de medicamentos orais (que devem ser prescritos com muito critério por serem hepatotóxicos) e até mesmo o tratamento com laser, que tem se mostrado bastante eficaz.
Estas alternativas ficam para futuros posts! Não deixe de acompanhar!!!
#xôfungo!
Referências: https://www.minhavida.com.br/saude/noticias/33460-mulher-sofre-queimadura-grave-apos-usar-alho-para-tratar-micose-no-pe http://casereports.bmj.com/content/2018/bcr-2018-226027.full.pdf Bayan et al. Garlic: a review of potential therapeutic effects . AJP, Vol. 4, No. 1, Jan-Feb 2014 Tattelman E. Health Effects of Garlic. AFP, Volume 72, Number 1 - July 1, 2005
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