Introdução
O Condiloma Acuminado Gigante (CAG) ou Tumor de Buschke Lowenstein (TBL) é variante rara do condiloma acuminado anogenital, doença sexualmente transmissível relacionada ao HPV. Histologicamente apresenta aspecto benigno, mas clinicamente apresenta comportamento de malignidade, pois infiltra tecidos adjacentes. A lesão é grande, vegetante, verrucosa, de aspecto exofílico, acometendo regiões anal, vulva, pênis, períneo, região perianal e canal anal. A melhor estratégia terapêutica para TBL não foi estabelecida, sendo utilizados agentes tópicos, imunoterapia, quimiorradioterapia e cirurgia. Sua incidência na população é de 0,1%, sendo a recorrência após tratamento de 60 a 66%1,2. O rápido crescimento deste tumor costuma estar associado a deficiências da imunidade1. Objetivos: Relatar caso clínico de cuidados tópicos adotados à lesão decorrente de ressecção de TBL.
Método
Trata-se de relato de experiência, realizado em Enfermaria de Internação adulto de Hospital Estadual referência em Infectologia da cidade de São Paulo. NGS, negro, 55 anos, solteiro, Enfermeiro. Paciente apresentava como diagnóstico HIV e TBL, com confirmação histológica, havendo recebido tratamento tópico das lesões sem sucesso. Internado para tratamento cirúrgico (ressecção de tumor), sendo solicitado no 1ºPO avaliação e conduta do Grupo de Pele da instituição. Na primeira avaliação identificou-se extensa área cruenta, envolvendo parte inferior do corpo do pênis, região inguinal extendendo-se até região sacral com pontos de necrose de coagulação. Elaborado plano de cuidados tópicos compreendendo antissepsia com solução de PHMB, aplicação de AGE, cobertura secundária com hidrofibra com prata e fixação com filme transparente. A troca foi realizada diariamente devido localização da lesão a fim de prevenir infecção secundária. Respeitados todos princípios da bioética postulados pela Resolução 196/96, Conselho Nacional de Pesquisa (CONEP), que versa sobre pesquisa com seres humanos (Parecer C.C. nº 96/2012).
Resultados
No 3º PO notou-se odor fétido e presença de necrose e esfacelo em toda a lesão. Coletado secreção da lesão para cultura, substituindo cobertura secundária por hidropolímero com ibuprofeno em região escrotal devido dor intensa e hidropolímero com prata no restante da lesão para controle da infecção. Observou-se pela escala analógica de dor importante redução do escore com utilização do hidropolímero com ibuprofeno, sendo possível suspender seu uso após 5 dias, adotando-se hidropolímero com prata em toda a lesão. Houve confirmação de infecção por morganella morganii, tendo então início antibióticoterapia sistêmica.
Discussão
A conduta relativa aos cuidados tópicos foi mantida durante o período subsequente com melhora do odor, redução de necrose e aumento de tecido de granulação. No 41º PO, observou-se resolução da dor, tecido de granulação em toda extensão da lesão, contração de bordas e ausência de sinais de infecção secundária. Foi então programado enxerto de pele.
Conclusões
A despeito dos possíveis vieses de confusão, pode-se inferir que o uso de solução de PHMB, AGE e cobertura de hidropolímero em lesão resultante de ressecção de TBL, controlou a infecção secundária, a dor, removeu tecido inviável, promoveu o aumento de tecido de granulação e contração de bordas e manteve as condições ideais para o preparo do leito para receber o enxerto de pele. Considerações finais: O TBL é uma doença rara, sendo este o único caso após ressecção do tumor já conduzido pelo Grupo de Pele desta Instituição. Apesar dos resultados apresentados, são necessários outros estudos que venham a identificar a melhor prática para o cuidado tópico da lesão decorrente do tratamento cirúrgico, observadas todas as variáveis envolvidas e direcionando à prática baseada em evidências.